A nova era do silêncio digital: o esgotamento de quem já compartilhou demais

Entre o cansaço da performance e a busca por autenticidade, cresce o movimento de quem prefere viver sem postar

CULTURATECNOLOGIA

Por Edu Pereira | Portal InfoDot

10/9/20253 min read

Durante anos, as redes sociais foram vitrines da vida moderna. Cada refeição, viagem ou conquista precisava ser registrada, filtrada e compartilhada. Mas essa dinâmica começa a mudar. Um número crescente de pessoas está simplesmente parando de postar, não por desinteresse, mas por exaustão. O gesto de silêncio se tornou um ato de autocuidado, resistência e, em muitos casos, libertação.

O cansaço da vida perfeita

O antigo impulso de “compartilhar tudo” se transformou em uma rotina desgastante. Escolher o melhor enquadramento, editar fotos, criar legendas espirituosas e lidar com o julgamento alheio passou a exigir uma energia emocional que muitos já não estão dispostos a gastar.
O que antes era espontâneo virou uma performance, e como toda performance, exige esforço. As redes, dominadas por padrões de sucesso e felicidade estética, alimentam a sensação de inadequação. É a chamada “comparação infinita”, o usuário real contra as versões cuidadosamente editadas da vida dos outros.

Pesquisas recentes apontam que um terço dos usuários posta menos hoje do que há um ano. Entre os adultos da geração Z, o movimento é ainda mais marcante. Cresceram conectados, mas agora preferem observar a postar, assistir a interagir, viver sem necessariamente registrar.

O palco mudou e a plateia também

As próprias plataformas perderam o sentido original de conexão. O que começou como um espaço para amigos virou um sistema controlado por algoritmos, onde visibilidade é privilégio de quem entende as regras, ou paga por isso.
Para o usuário comum, a frustração é crescente. “Por que postar se quase ninguém vai ver?”, muitos pensam. O alcance pessoal despencou, e a experiência deixou de ser íntima.

Enquanto isso, os feeds estão tomados por propagandas, vídeos patrocinados e conteúdos de influenciadores. As redes tornaram-se menos sociais e mais comerciais.
Além disso, cresce a percepção de que o conteúdo está perdendo humanidade, com a presença de imagens e textos gerados por inteligência artificial, o espaço digital se torna saturado, impessoal e distante da vida real.

A distração continua

Curiosamente, o afastamento do postar não significa o fim do uso das redes. Ainda enviamos mensagens, consumimos memes e nos distraímos com o feed, apenas participamos menos da encenação coletiva.
Em vez de publicar para todos, as pessoas estão migrando para interações privadas, grupos fechados ou círculos próximos, buscando conexões mais autênticas.

Silenciar é escolher

O movimento de se calar nas redes não é uma fuga da era digital, mas um ajuste de rota. É o reconhecimento de que estar sempre ativo online não é o mesmo que estar conectado.
Esse silêncio digital, longe de ser vazio, é o novo sinal de que as pessoas estão tentando se reconectar com o essencial, elas mesmas.

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