

A parte da conta que não te falaram
O crescimento pós-pandemia trouxe otimismo, mas o peso das políticas fiscais revela que a conta da bonança chegou.
ECONOMIA
Por Alex Agostini (Economista-Chefe) e Rodolpho Sartori (Economista) | Austin Rating
10/14/20253 min read


Ao longo da última década (2015-2024), a economia brasileira cresceu em média 0,9% ao ano, muito menos que os países desenvolvidos (2,4%) e quase cinco vezes menos que a média do BRICS (4,5%) se excluirmos o Brasil. Nesse período, o Brasil sofreu com a recessão econômica no biênio 2015 (-3,5%) e 2016 (-3,3%), em virtude das consequências perversas da política fiscal expansionista iniciada em 2014 no período pré-eleitoral, além do tombo sofrido em 2020 (-3,3%), promovido pela pandemia do Covid-19.
Fazendo um recorte, ao analisarmos o período pós-pandemia (2021-2024), a atividade doméstica se recuperou e apresentou crescimento médio anual do PIB de 3,6%, com máxima de 4,8% em 2021, números exuberantes para o Brasil se considerarmos que sua média em toda a década foi de míseros 0,9%.
Após a tempestade, a bonança parecia ter chegado na terra de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Aplaudimos em pé o Brasil sair do mapa da pobreza (ou da fome), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Vimos o mercado de trabalho voltar a ser feliz com a taxa de desemprego atingir seu menor nível histórico de 5,6% no último mês de agosto de 2025, após amargar quase 15% no auge da pandemia e média anual de 10,6% no período de 2015-2024. A taxa de juros (Selic) ficou na média anual de 9,50% e marcou história ao tocar nos 2% ao ano durante a pandemia, quase uma Suíça!
Todavia, para a manutenção de tais taxas exuberantes de crescimento, desemprego e juros, a política fiscal expansionista foi ativada. Desde o Auxílio Brasil, em 2021, no governo Bolsonaro, passando pela PEC da Transição, aprovada logo após a eleição de Lula, e atualmente com as benevolências de, quem sabe, até transporte público gratuito para todos.
O lado obscuro dessa equação fiscal expansionista é que a conta chega, e é muito, muito, mas muito amarga. Por exemplo, desde 2015 (excetuando-se 2020), em média, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) tem ficado em 74%, enquanto, de 2010 até 2015, a DBGG operou no nível de 55%. Esse salto de 20 pontos percentuais sinaliza uma dinâmica de crescimento acelerado (e preocupante) do endividamento do País, que, para além da “justiça social” importante e necessária, é onerado por benesses estatais de qualidade duvidosa, como emendas parlamentares e benefícios tributários.
Então, a conta ao cidadão brasileiro começa a chegar com elevação forte e consistente da taxa de inflação e da taxa de juros. Aliás, essa última está no maior nível dos últimos 19 anos (15% ao ano), além das perspectivas de desaquecimento do mercado de trabalho e recuo da renda. E fica ainda pior com a forte onda de dispositivos legais, como decretos, medidas provisórias, PECs e projetos de lei, para elevar impostos e tentar “fechar a conta” dos gastos excessivos e evitar que o País entre em “shutdown”, ou seja, paralisia dos serviços públicos considerados não essenciais.
Infelizmente, a realidade é dura e não é doce, e a bonança não chegou e nem veio para ficar, foi um mero lampejo. E o Brasil? Bom, o Brasil segue sendo Brasil, com suas mazelas sociais.






