As taxas de juros são elevadas no Brasil, por quê?

Mesmo após avanços desde o Plano Real, o Brasil ainda figura entre os países com juros mais altos do mundo.

ECONOMIA

Por Alex Agostini | Economista-Chefe da Austin Rating

9/19/20254 min read

Em 1º de julho de 2025, o Plano Real completou 31 anos de vida. Durante esse período, a taxa básica de juros da economia brasileira, mais conhecida como taxa Selic, passou de mais de 50% ao mês para pouco mais de 1,1% atualmente (ou 15% ao ano). Apesar do notável avanço, não há nada para comemorar. Muito pelo contrário, a taxa de juros do Brasil ainda é uma das maiores do mundo, lamentavelmente.

A situação torna-se ainda mais crítica quando avaliamos os “juros de mercado”, ou seja, aqueles juros que são cobrados pelas instituições financeiras e lojas de departamentos quando realizamos operações de crédito pessoal (empréstimos), ou utilizamos o cheque especial, ou mesmo quando decidimos financiar a compra de um carro ou um imóvel.

Segundo dados sobre operações de crédito divulgados pelo Banco Central do Brasil no último dia 27/08/2025 e referentes ao mês de Jul/2025, a taxa média de juros cobrada nas operações de crédito realizadas pelas pessoas físicas foi de 57,7% ao ano ou média de 3,85% ao mês. Apenas como referência, a taxa bruta de retorno de investimentos conservadores em bancos de primeira linha é de aproximadamente 0,9% ao mês.

Nem mesmo as operações de crédito consignado, que detém uma das menores taxa de juros, conseguem fazer o papel de “mocinho” e não se salvam de ter juros muito elevados. Ainda segundo dados do BACEN, a taxa de juros dos empréstimos consignados para servidores públicos e beneficiados do INSS foi de 24,5% ao ano, o equivalente a 1,85% ao mês (ou 160% do CDI). No papel de “vilão”, estão as taxas de juros cobradas nas operações de financiamento do rotativo do cartão de crédito que, pasmem, superam 15% ao mês, ou inimagináveis mais de 440% ao ano. Agora, pensa em um pai de família que ganha míseros 1 salário-mínimo (R$ 1.518/mês) e por um infortúnio da vida ficou devendo R$ 100,00 no cartão de crédito e acabou caindo nos juros do rotativo e viu mais de um terço da sua renda mensal ser tragada pelo pagamento de quase R$ 550 ao final de 12 meses (isso é mais de 1.300% do CDI).

Por tudo descrito anteriormente, é fato que a taxa de juros no Brasil é quase uma aberração econômica e isso tem alguns fatores que explicam, e vou elencar alguns importantes, já que o leque de justificativas é muito amplo, começando pelo chamado spread bancário que nada mais é do que a diferença entre a taxa de captação paga aos poupadores de recursos (investidores), e a taxa de aplicação aos tomadores de recursos (consumidores de créditos ou endividados). Dizem que o spread é elevado em virtude da cunha fiscal, da inadimplência e da estrutura administrativa, porém, não falam que a inadimplência é baixa e que ao menos 40% do total do spread se refere ao retorno dos bancos.

Outro fator que mantém os juros altos é a concentração bancária. Mais de 80% das operações de crédito estão concentradas apenas nas 5 maiores instituições do país, portanto, baixo nível de competição. Um terceiro fator é o elevado nível de endividamento do setor público que faz com que haja um forte desequilíbrio na demanda por crédito, afinal, o risco de “emprestar” ao governo comprando títulos públicos é infinitamente menor do que emprestar aos bravos e guerreiros cidadãos de bem que ganham em média um salário de apenas R$ 3.500, segundo o IBGE.

Por fim, outra justificativa dos juros estratosféricos no Brasil é a estrutura de preços da economia que ainda mantém resquícios de indexação, que geram a chamada inflação inercial, como os reajustes de aluguéis, contratos de prestação de serviços privados e, principalmente, os reajustes anuais das tarifas públicas que representam aproximadamente 25% do índice de inflação e são 100% imunes as taxas de juros. Os demais 75% de preços que compõem a taxa de inflação dependem do equilíbrio entre oferta e demanda que, por sua vez, dependem do nível de atividade no mercado de trabalho, e que sempre acabam sofrendo com os juros elevados quando o mercado está aquecido para tentar colocar a inflação no seu lugar, que é variar numa banda entre o piso de 1,50% ao ano e teto de 4,50% ao ano. Uma tarefa nada fácil para o Banco Central, mas quem sabe para Tom Cruise ou MacGayver seja possível.

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