Sede do Banco Central em Brasília. Foto: Rodrigo Oliveira/Caixa Econômica Federal.

Banco Central desliga plataforma DREX e abre espaço para stablecoins privadas

Banco Central encerra a infraestrutura do Real Digital e impulsiona o avanço de stablecoins e moedas digitais privadas no país.

ECONOMIATECNOLOGIAMERCADO

Por Redação InfoDot

11/6/20255 min read

É inevitável questionar qual será o próximo passo da tokenização no Brasil, diante do reposicionamento do projeto DREX. A evolução tecnológica, pautada por segurança e eficiência, exige ajustes constantes e, às vezes, drásticos. Esse é o contexto da recente decisão da autoridade monetária: o desligamento da plataforma usada nas fases iniciais do DREX, movimento que abre uma nova etapa de incertezas e oportunidades no mercado financeiro digital.

Motivos da Interrupção: Segurança, Custo e Privacidade

O Banco Central optou por desativar a plataforma que serviu de base para as fases 1 e 2 do projeto DREX. Essa infraestrutura, baseada na tecnologia Hyperledger Besu — uma Distributed Ledger Technology (DLT), ou livro-contábil digital criado em 2019 pela Hyperledger —, foi utilizada para os pilotos do Real Digital.

A decisão foi comunicada em reunião com os consórcios participantes no dia 4, e o desligamento está previsto para ocorrer nos próximos dias. Segundo fontes próximas ao projeto, havia problemas de privacidade a serem resolvidos na infraestrutura onde os testes foram conduzidos, além de custos elevados de manutenção que tornavam o ambiente inviável para a continuidade.

O Papel Cumprido dos Testes e a Próxima Etapa

O projeto DREX permanece ativo. Ele vem sendo desenvolvido há alguns anos e sua infraestrutura de testes foi escolhida há cerca de dois anos e meio.

Na primeira fase, 16 propostas foram selecionadas a partir de um protocolo de “entrega contra pagamento” (Delivery versus Payment, ou DvP) de títulos públicos federais, com foco em privacidade e programabilidade.

Na fase 2, o Banco Central escolheu 13 temas — entre 42 recebidos — para desenvolvimento pelos consórcios. Foi nesta etapa, conduzida na infraestrutura Hyperledger Besu, que os objetivos de privacidade não foram plenamente atingidos.

O relatório final dessa fase ainda será apresentado, e a fase 3 está prevista para o início de 2026. A expectativa é que uma nova tecnologia substitua a infraestrutura anterior, com continuidade dos estudos sobre casos de uso para o Real Digital.

Para André Carneiro, CEO da BBChain, que participou do projeto, a fase 2 cumpriu integralmente seu papel. “As tecnologias foram avaliadas pela perspectiva do regulador e, segundos seus critérios, dentro de um escopo bastante amplo e ambicioso, demostraram necessidades de evoluções para atendimento completo.”
Ele acrescenta: “Novos modelos de negócios, com escopo mais direcionado pelo mercado, podem ter requisitos atendidos sem as eventuais restrições regulatórias do piloto Drex.”

Oportunidade para Stablecoins e Estruturas Privadas

A reavaliação do Drex e a pausa em sua evolução imediata abrem espaço para a expansão das stablecoins — criptomoedas com valor pareado a uma moeda tradicional na proporção de 1:1 — e de outras soluções tokenizadas privadas.

Essas moedas digitais oferecem vantagens como programabilidade, liquidação instantânea e ausência de intermediários, funcionando como representações digitais da moeda tradicional.

Henrique Teixeira, diretor-geral da tokenizadora Hamsa para a América Latina, considera a decisão um “banho de água fria” para quem participou do desenvolvimento do Drex, mas acredita que a tokenização no Brasil entra agora em uma nova fase. “Os bancos devem desenvolver suas próprias stablecoins”, afirma.

Alguns movimentos já ocorrem nesse sentido. O Banco Safra lançou sua própria moeda digital pareada ao dólar americano, e o Itaú estuda emitir uma stablecoin atrelada ao real, dependendo do avanço da regulamentação esperada ainda este ano.

As stablecoins permitem aos bancos oferecer exposição cambial com menores custos, já que não estão sujeitas ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nem às taxas de intermediação do câmbio tradicional. Além disso, podem ser usadas para liquidar transações com tokens de ativos fora do ambiente cripto, como recebíveis, debêntures e fundos de investimento.

Teixeira projeta que “inicialmente, os vencedores serão aqueles que tiverem mais agilidade para lançar seus produtos. Os bancos de maior porte têm mais recursos e expertise, o que pode lhes dar alguma vantagem”.

A tendência segue o movimento internacional: nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva que proíbe a criação de uma moeda digital de banco central (CBDC) e incentiva o desenvolvimento de stablecoins privadas.

Reações do Mercado e o Futuro Agnóstico

O setor financeiro recebeu a notícia com cautela, mas vê na decisão um sinal de amadurecimento do projeto.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) destacou que o desligamento da plataforma demonstra o compromisso do Banco Central com a segurança e a estabilidade da futura infraestrutura, reforçando sua permanência no grupo de apoio ao DREX.

Já a ABBC (Associação Brasileira de Bancos), que representa instituições de menor porte, informou que seus associados possuem tecnologia capaz de integrar o caso de uso desenvolvido — Cédulas de Crédito Bancário tokenizadas — a outras redes, mesmo após a desativação do ambiente atual.

A BBChain, que faz parte do consórcio da ABBC, reiterou que a fase 2 “cumpriu seu papel” e que o Banco Central reconheceu a necessidade de evolução das tecnologias testadas.

O relatório final da segunda fase deve ser concluído no início de 2026. Na sequência, a fase 3 deve marcar o início de uma nova etapa de estudos sobre tokenização, com uma arquitetura tecnológica agnóstica capaz de se integrar a diferentes soluções e com o objetivo de criar um ambiente no qual a moeda de liquidação das transações seja efetivamente emitida pelo Banco Central, mantendo o equilíbrio entre privacidade e supervisão regulatória.

Leia mais...