O tempo e o emprego já não são mais os mesmos

Uma análise sobre como tecnologia, crises econômicas e mudanças sociais estão remodelando o mercado de trabalho em ritmo acelerado.

MERCADOTECNOLOGIAECONOMIA

Por Alex Agostini

11/17/20253 min read

O mercado de trabalho foi, historicamente, palco de grandes desafios e importantes transformações em virtude das constantes mudanças promovidas pelo progresso econômico e pelas inovações tecnológicas como, por exemplo, o uso da pólvora na Idade Moderna, que resultou na queda do Império Bizantino (1453), passando pela primeira revolução Industrial (1760-1850), que contemplou a transição do processo de produção artesanal para manufatura em larga escala, até atingir seu momento mais agudo na segunda revolução Industrial (1850-1950) com o desenvolvimento da energia elétrica, das indústrias do aço e do petróleo.

Atualmente, as relações de trabalho, amparadas pela ampliação da globalização cultural, econômica e financeira, passam por um profundo e importante processo de transformação com velocidade nunca vista antes. Até a segunda revolução Industrial, o ciclo médio das mudanças nas relações de trabalho era de 100 anos, agora, porém, observamos mudanças significativas em apenas uma década de tempo. Parte desse encurtamento do ciclo de mudanças decorre do uso mais intenso e em larga escala de diversas variantes da tecnologia, como automação, digitalização, robótica, inteligência artificial, entre outras, que, por sua vez, tentam atender a demanda do progresso econômico determinado pelas relações entre oferta e demanda, além das crescentes necessidades da sociedade em se adaptar ao mundo em constante mutação, bem como alcançar maiores níveis de eficiência e produtividade para otimizar os resultados das corporações.

Entretanto, em momentos de crise econômica, os fatores de produção (terra, trabalho e capital) são fortemente afetados com perdas de eficiência em decorrência das constantes quedas na demanda, sendo o mercado de trabalho o primeiro a sentir os efeitos negativos e o último a entrar em ciclo de recuperação. Neste contexto, em geral, o processo de renovação e inovação é temporariamente estagnado em virtude de os países reformularem suas políticas econômicas com foco no protecionismo, objetivando recuperar parte das perdas apuradas no mercado de trabalho até que a dinâmica do crescimento econômico global seja retomada ao nível observado no pré-crise.

Porém, quando a origem da crise não é fomentada por um ciclo de mudança estrutural e sim por um problema de crise conjuntural, a velocidade de mudança nas relações de trabalho é acentuada devido às rápidas mudanças de comportamento social que, por sua vez, afetam o equilíbrio da demanda nos diversos setores da economia.

No Brasil, o que temos observado nesse período pós-pandemia é uma grande onda de inovação em diversos setores da economia, principalmente com o uso da tecnologia via aplicativos que resultam em alterações nas relações de trabalho, seja no surgimento de um novo tipo de profissional ou na redução, ou até extinção, de tradicionais postos de trabalho.

É um novo ciclo que se renova a cada geração. Porém, mesmo o dia tendo as mesmas 24 horas desde a invenção do relógio, o tempo está mais curto a cada novo raiar do Sol.

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Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating, Agência de Classificação de Risco de Crédito.

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