Tarifas, Incertezas e Inflação: Um Novo Capítulo na Economia Global

As projeções para os próximos dois anos traçam um cenário desafiador tanto no ambiente internacional quanto doméstico. Com o retorno de Donald Trump ao comando dos Estados Unidos, o mundo volta a encarar uma agenda econômica marcada por protecionismo, tensões comerciais e imprevisibilidade. E os impactos já começam a ser sentidos.

Alex Agostini, Economista-chefe da Austin Rating

4/30/20253 min read

O Fórum Econômico Mundial e o FMI vêm alertando para os riscos crescentes de uma escalada tarifária com reflexos diretos no crescimento global. No seu mais recente relatório, o FMI revisou para baixo as estimativas para o PIB mundial, agora projetado em 2,8% para 2025 e 3,0% para 2026, abaixo das previsões anteriores de 3,3% em ambos os anos.

Os Estados Unidos aparecem entre os destaques negativos, com estimativa de crescimento reduzida para 1,8%, enquanto a China deve crescer 4,0%, mantendo-se como principal motor econômico entre os emergentes. Para o grupo dos países em desenvolvimento, a expectativa de crescimento foi reduzida para 3,7%, sinalizando uma desaceleração generalizada.

E o Brasil?

O Brasil não escapa dos impactos globais. A previsão de crescimento para o país está em torno de 2,0% para 2025 e para 2026, ritmo bem abaixo da média recente observada no período pós-pandemia. O principal fator de desaceleração segue sendo a política monetária restritiva, com juros altos e efeitos prolongados sobre o consumo e o crédito, para combater os efeitos colaterais negativos da política fiscal expansionista.

A inflação é o ponto de atenção. Com a transição para o novo sistema de meta contínua, o IPCA deve encerrar 2025 em 5,5% e 2026 em 4,5%, ainda acima do centro da meta, segundo dados da pesquisa Focus-Bacen. Pressões persistentes sobre preços de serviços e alimentos, somadas à instabilidade internacional, podem exigir explicações do Banco Central e eventuais ajustes na política monetária.

Juros, câmbio e riscos fiscais

A taxa Selic deve atingir o pico de 15% ao ano em junho de 2025, mantendo-se nesse patamar até nov/25, quando um processo gradual de afrouxamento monetário pode começar. No entanto, esse cenário não considera o agravamento da disputa comercial entre EUA e China — uma variável que, se piorar, pode acelerar o desaquecimento global e empurrar o Brasil para um quadro recessivo.

A cotação do dólar também reflete esse ambiente de instabilidade. O real pode fechar 2025 em torno de R$ 5,90, pressionado por riscos fiscais internos e pela aversão global ao risco. Para 2026, a projeção gira em torno de R$ 5,95, com viés de baixa caso os EUA entrem em recessão.

Do ponto de vista fiscal, a expectativa é de superávit primário modesto em 2025, mas com sérias dificuldades para o governo cumprir as metas do novo arcabouço fiscal. A depender da desaceleração econômica e das pressões por gastos, o uso de medidas parafiscais pode aumentar — o que compromete a credibilidade do ajuste e pode gerar desconfiança no mercado.

A relação dívida/PIB, por sua vez, continua crescendo. As estimativas apontam para 80,5% em 2025 e 84% em 2026, antecipando um patamar que o governo esperava atingir apenas em 2028.

Um cenário para decisões conscientes

O que se desenha à frente é uma nova (des)ordem econômica mundial, marcada por políticas unilaterais, retração do comércio internacional e disputa por protagonismo entre potências. No centro dessa equação, países emergentes, como o Brasil, precisarão de equilíbrio, visão estratégica e responsabilidade fiscal para evitar choques ainda maiores.

Enquanto o mundo revê suas apostas e modelos, o mercado acompanha com atenção cada sinal, cada fala, cada movimento — num ambiente em que dados e decisões estão mais conectados do que nunca.

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